segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 8

Conscientes da emergente cultura juvenil, lentamente os espaços outrora devotados a géneros de espectáculos – cinemas e teatros - abriram a sua programação a novos eventos, como os concertos e concursos de música pop-rock. Por detrás disto estavam personalidades como Vasco Morgado ou Arlindo Conde e, mais tarde, entidades como o Movimento Nacional Feminino.

Mas as bandas neste princípio de década ainda eram poucas, de curta duração e sediadas sobretudo em Lisboa, Porto e Coimbra. O serviço militar iminente, ou obrigações profissionais ou familiares, impediam qualquer possibilidade de carreira ou até mesmo de tocar fora do país. Foi o caso dos Conchas, que tiveram convites para tocar no Brasil, Alemanha e França.

Tinham, por isso, os grupos de se contentar com os espectáculos organizados pelo "Passatempo para Jovens", ou rezarem para terem a sorte de irem à televisão ou serem contratados por algum hotel para banda residente. Ainda assim, em 1961, Zeca do Rock conseguiu gravar o seu único EP em nome próprio, editado pela Rádio Triunfo, e Fernando Conde, o Conjunto Nova Onda e o Quinteto Académico começavam a dar os seus primeiros passos.

Sendo na sua maioria estudantes ou trabalhadores em princípio de carreira, a música era vivida como apenas mais uma aventura ou hobby. Entretanto, nas revistas começavam a aparecer nomes como Tarzan Taborda, Madalena Iglésias e Florbela Queiroz, a dita "Brigitte Bardot portuguesa" que se tornariam idolos de uma geração.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 7

Numa altura em que "o nosso público está arreigado à ideia, aliás falsa, de que o rock é uma música para teddy boys, uma música para transviados e que concorre para actos menos dignos"[1], alguns músicos optam por uma então chamada "nacionalização do rock", por "criar um estilo de rock português"[2]...

Os músicos passaram então a fazer versões "modernas" de composições tradicionais e populares e surgiram, músicas como por exemplo, de Zeca do Rock com nomes como "Nazaré Rock" e "Hino a Jesus". Denotava-se assim também uma preocupação em lidar com os estereótipos da cultura portuguesa. Desta forma os conjuntos agradavam a novos e velhos e conseguiam tocar ao vivo em bailes e festas privadas sem causar grande alarido.

Além destas versões, os grupos costumavam fazer versões portuguesas de êxitos internacionais, que eram também uma das exigências das editoras, caso quisessem gravar[3]. Desta forma a originalidade limitava-se à tradução livre da letra inglesa ou a algumas composições dos autores, se tivessem a sorte de as editoras aprovarem. Muitas vezes, e especialmente numa fase inicial, estas apegavam-se aos modelos estrangeiros, principalmente de Cliff Richard e dos Shadows, Everly Brothers e Johnny Hallyday.



[1] Zeca do Rock, entrevista in Plateia, no.87, 5.7.61

[2] Zeca do Rock, entrevista in Plateia, no.87, 5.7.61

[3] Entrevista do autor a Joaquim Costa em Dezembro de 2007

domingo, 20 de fevereiro de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 6

Portugal estava finalmente a entrar naqueles que, posteriormente, seriam descritos como os "anos de ruptura" ou "anos de mudança"[1].

Foi a partir daí que se estabeleceu uma nova classe média, e com ela novos hábitos de consumo. Apareceram os novos bairros, os snack-bars - Noite e Dia, Vá-Vá, Pic-nic - e novas revistas. Iniciava-se, devagar, uma década de consumo. E com a música abriram as discotecas como a Grande Feira do Disco, que "não se limitava à edição nacional. Possuía a sua própria etiqueta - Marfer - e representava e importava muitas outras. Foi criada em 1960 por José Barata, irmão do Barata da Avenida de Roma (Lisboa), onde a malta encontrava os livros, as revistas e até os discos proibidos. O Barata tinha-os sempre escondidos debaixo do balcão à espera do cliente certo. Tinha lojas no Porto, Coimbra, Viseu, Alcobaça e Cascais"[2].

Seguiram-se, ao longo da década, muitas outras, como a Discoteca Compasso, Universal, Frineve, Sinfonia, a "boutique do disco" Sol & Dó e, já na viragem da década, a Valentim de Carvalho. Ainda assim, os discos tinham de ser importados e demoravam mais de seis meses a chegar se não fossem confiscados entretanto. Restavam, para alguns, as pen-pals que conheciam nas estâncias balneares.



[1] Anos 60, Anos de Ruptura, Lisboa, Livros Horizonte, 1994

[2] Luis Pinheiro de Almeida in http://guedelhudos.blogspot.com, 22.10.2007