sábado, 28 de outubro de 2017

"Melodias de Sempre"

Na década de 80, neste caso já perto do final, a imprensa começa a ser fazer retrospectivas da música portuguesa das décadas anteriores. Estes artigos eram dirigidos aos que foram miúdos nos anos 60 e por isso a maioria das vezes têm um teor saudosista. Além da imprensa é também nessa altura que começam a ser organizadas festas temáticas. Os mais velhos ainda queriam dançar... Os mais novos pouco ou nada quiseram saber sobre isto. Rapidamente (e felizmente) tudo cai na obscuridade.



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Teresa Paula Brito canta José Afonso


Teresa Paula Brito, depois de em 1969 colaborar com José Afonso no disco "Contos Velhos Rumos Novos" - é dela a voz em "Vai, Maria, Vai" - grava um EP com versões dele. O disco sai em 1970 na R.R. e conta com Carlos Menezes na guitarra, Eugénio Pepe no orgão e Braga Santos na viola ritmo.



terça-feira, 17 de outubro de 2017

Mike McGill "Vietnam"

Mike McGill, natural de Inglaterra, emigrou para Portugal na década de 60 e fez parte dos Pop Five Music Incorporated. Depois de em 1969 ter gravado um primeiro single a solo para a Orfeu, na década de 70 grava um segundo e último disco, desta vez para a Zip Zip.

Aí ouvem-se mais duas versões, desta vez "Vietnam" de Jimmy Cliff, provavelmente gravada como reacção à guerra colonial, e "Superstar" de Andrew Lloyd Webber.



sábado, 7 de outubro de 2017

António de Macedo (1931-2017)



Faleceu no passado dia 5 de Outubro o realizador António de Macedo. Foi ele um dos poucos realizadores portugueses a prestar atenção à música que os mais novos faziam e a saber explorá-la de acordo com as novas linguagens cinematográficas. São os Quinteto Académico os escolhidos para fazer a banda-sonora do seu primeiro filme de longa-metragem, “Domingo à Tarde” (1965). Isto ainda antes de terem gravado o primeiro disco. 


Seriam também os Quinteto Académico a fazer a banda-sonora de “Sete Balas para Selma”. Aí acompanham Florbela Queiroz que canta duas músicas que têm a particularidade das letras terem sido escritas por Alexandre O’ Neill e de serem filmadas a cores.


Percebe-se, através destes dois filmes, alguns dos círculos que operavam então em Lisboa, o que de novo se estava a fazer, outras coisas que estavam a acontecer… 


Capa e contracapa da revista Almanaque, 1960.

Como, aliás, se pode ver também nas sequências, mais ousadas, livres até, que António de Macedo realiza para o “Cine Almanaque”, um jornal cinematográfico da responsabilidade de António da Cunha Telles.

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Infelizmente o realizador ainda precisa de uma apresentação. Resumidamente, antes de ser cineasta, António de Macedo desenhou jóias, trabalhou como arquitecto na Câmara Municipal de Lisboa e, com apenas vinte e poucos anos, em 1959, aventura-se na sua primeira experiência cooperativa – juntamente com dois amigos constitui, o Clube Bibliográfico Editex, onde edita o seu “A Evolução Estética do Cinema”, um livro seminal, cujo título é explícito relativamente ao conteúdo. Ao livro seguem-se trabalhos como crítico em revistas e jornais.


Em 1961, finalmente, realiza as primeiras experiências cinematográficas: “Ode Triunfal” (1961) e “A Primeira Mensagem” (1961). Em 1963 realiza “Verão Coincidente”, com base num poema de Maria Teresa Horta. Dois anos depois estreia o seu “Domingo à Tarde” (1965), uma adaptação do livro de Fernando Namora e um dos filmes fundadores do Cinema Novo Português. Passados outros dois anos, realiza um filme de aventuras surpreendentemente pop, tanto divertido como inteligente, “Sete Balas para Selma” (1967). 


Logo de seguida monta o que descreve como um “filme de desespero”, “Nojo aos Cães” (1970). Este é proibido pela censura portuguesa e premiado no Festival de Benalmadena. 


 Segue-se “A Promessa” (1972), baseado no livro homónimo de Bernardo Santareno, que será o primeiro filme português a ser seleccionado para competição em Cannes e o vencedor do primeiro prémio do festival de Belgrado. Em Portugal, é censurado. Entre estas longas-metragens, realiza ainda curtas-metragens publicitárias, mais experimentais, arriscadas, livres, até. É o caso dos jazzísticos “Nicotiniana” (1963) e “5 Temas para Refinaria & Quarteto” (1971), do quase cruel “Cenas de Caça no Baixo Alentejo” (1973) e de outros mais.

Mais do que um cineasta, António de Macedo tem um papel central nos desenvolvimentos do cinema em Portugal. É ele, juntamente com António da Cunha Telles, um dos membros fundadores da primeira cooperativa de cinema, o Centro Português de Cinema, no activo a partir de 1969. Em 1974, depois de uma primeira e breve carreira como docente, funda a cooperativa Cinequanon. Esta funcionaria durante duas décadas e é sob a sua alçada que, nos anos do P.R.E.C., vai registar o Portugal em inúmeras curtas-metragens. Estas culminam no polémico “Fátima Story” que, por sua vez, dará origem ao não menos polémico “As Horas de Maria”, de 1976, estreado apenas em 1979 e no qual nos vamos centrar neste artigo.



Enquanto espera a estreia de “As Horas de Maria”, António de Macedo realiza “O Princípio da Sabedoria” (1975), que não consegue estreia comercial, tornando-se assim prenúncio da condição de marginal que, progressivamente, seria imposta ao autor, e “O Príncipe com Orelhas de Burro” (1980). Paralelamente realiza também algumas curtas-metragens onde explora a cultura popular portuguesa, deixando claro o seu interesse pelo fantástico. Isto depois de ter realizado um documentário sobre OVNI’s em Portugal, “Encontros Imediatos do Nosso Grau” (1979), para a RTP. Já nos anos 80, António de Macedo troca, definitivamente, a política pelo esoterismo, e investe num cinema com preocupações mais humanas, como se verá em “Abismos da Meia Noite” (1983) e “Os Emissários de Khalôm” (1987), longas-metragens de ficção científica que levariam a que fosse descrito como um “anarco-misticista”.

Apesar de premiado, e apesar dos seus filmes terem sido, na sua maioria, sucessos de bilheteira, a partir da segunda metade da década António de Macedo enfrenta problemas de financiamento que o impedem de filmar. Isto faz com que se dedique, a partir daí, aos seus estudos, pessoais e académicos, tal como ao ensino e à escrita. Assim, depois de em 1961 ter editado o mais filosófico “Da Essência da Libertação”, retoma o conto que deu origem ao filme “Os Emissários de Khalôm”, e colige-o, com outros, em “O Limite de Rudzky” (1993), volume que marca o início de uma prolífera carreira literária.

A tudo isto, e estou a ser breve, acrescente-se que embora raramente seja destacado como músico, António de Macedo escreveu mais de cem peças. E que foi ele um dos primeiros portugueses a gravar música concreta ou experimental, embora apenas em película e nunca em vinil – oiçam-se, por exemplo, algumas sequências de “Domingo à tarde” (1965), ou a curta “Alta Velocidade” (1967), para se perceber o trabalho deste arquitecto sonoro.


Em 2016, António de Macedo regressa ao grande ecrã, com a remontagem de um projecto antigo, agora intitulado “O Segredo das Pedras Vivas”, e como alvo de um documentário realizado por João Monteiro intitulado “Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo”.

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Sobre António de Macedo ver o catálogo publicado em 2012 por ocasião da retrospectiva na Cinemateca Portuguesa. Mozos, Manuel (Org.), O Cinema de António de Macedo, Lisboa, Cinemateca Portuguesa, 2012.

The Beatles na imprensa portuguesa