segunda-feira, 13 de junho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 27

Mas os movimentos migratórios não se davam só na direcção das colónias. Recusando-se a pactuar com a guerra, e até mesmo com alternativas como o Alerta Está!, que obrigava os músicos a em vez cumprirem serviço militar, tocarem para os soldados, houve quem preferisse emigrar ou ser expatriado. Vendo as artes como mais do que entretenimento ou indústria, preferiam procurar em Londres ou Paris uma compreensão ou um espaço para uma liberdade artística em termos de criação e de influências. Por meios próprios ou com bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian, jovens como Lourdes Castro ou Costa Pinheiro, nas artes visuais, ou Luís Rego e Tozé Brito, na música, partem de Portugal. Em França, Luís Rego formou uma das maiores bandas francesas da década de 60, os Les Problèmes.

Se por um lado, com o regime a desmoronar-se, os organismos que o sustentavam começaram a apertar o cerco a qualquer desvio, por outro, começaram a surgir soluções para contorná-los que demonstravam mais imaginação do que a música em si. Foi dentro desse registo que se começou a usar a linguagem metafórica em "tentativas de enraizamento da temática poético-musical na especialidade da nossa contextura político-cultural"[1], assim como a língua inglesa, que os oficiais da censura não dominavam, servindo-se os músicos dela para denunciar situações. Letras cada vez mais politizadas, versando sobre a guerra colonial, bairros da lata, emigração ou racismo começavam a partir daqui, com bandas como Os Steamers, Quarteto 1111 e os Ekos, a ser cada vez mais recorrentes.



[1] Duarte, António A., A Arte Eléctrica de Ser Português: 25 anos de Rock 'n Portugal, Livraria Bertrand

Sem comentários:

Enviar um comentário