quinta-feira, 30 de junho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 32

Em Portugal as bandas continuavam a surgir, embora em menor quantidade, e as ainda existentes começaram a experimentar abordagens mais imaginativas e consistentes, mas sempre com pouco êxito comercial. Ultrapassado o yé-yé e com a introdução de novos estilos de música, acompanhados pela surgimento de novas editoras, como a Movieplay ou a Clave, surgem o Grupo 5, dentro da pop psicadélica, a Filarmónica Fraude, que iria dar que falar nos anos seguintes, o Trio Barroco com Jean Sarbib a desenvolver a sua vertente mais jazzística, Banda 4 com Paulo de Carvalho depois do fim dos Sheiks, Tibério e Lúcia dos Açores, os Objectivo, os Nómadas, entre outros.


Enquanto isso bandas como os Tubarões de Viseu ou o Conjunto Universitário Hi-Fi moviam-se para estéticas mais psicadélicas que se reflectiram em composições como "Poema do Homem-Rã", dos primeiros, ou "Words of a Mad", dos últimos. Ouve-se ainda falar dos Vodkas da Figueira da Foz, dos Celtas, que no ano seguinte lançariam um EP na Marfer, de Nuno Filipe e dos Keepers.


Nas colónias, os Inflexos já andavam em "aventuras psicadélicas" com "luzes extravagantes" e pedais wah-wah, influenciados pelas viagens a Joanesburgo. Em Lourenço Marques os membros dos H20 criaram a revista Onda Pop para acompanhar o que se ia passando. Também em Moçambique formaram-se os Scarecrows e em Angola realizou-se o 2º Grande Festival Ié Ié com os Five King, de Luanda, Mísseis de Malange, Rhytmo Boys de Benguela, 007 de Nova Lisboa, Satélites de Lobito e os Indómitos de Luanda. Foi no final deste ano que os Jotta Herre conheceram Paul McCartney no hotel onde eram a banda local e que este lhes escreveu uma música, "Penina".



Entretanto, Salazar caiu da cadeira, Marcelo Caetano foi nomeado Presidente do Conselho e no dia 25 de Dezembro foi oferecido a Portugal o segundo canal da R.T.P.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 31

Apesar do final de década ser fortemente marcado pela entrada de estrangeiros em Portugal, alguns tendo chegado a incorporar-se em bandas portuguesas, como o Quinteto Académico +2 ou os Jotta Herre, a imigração e a emigração continuam a ser os principais movimentos. Da aldeia para a cidade, fixam-se sobretudo em Lisboa, Porto, Braga, Aveiro e Setúbal, cada vez mais industrializadas, a viver em bairros da lata e prédios sem planeamento na Amadora, Almada, Barreiro, Maia ou Gondomar. Ergue-se a Brandoa como paradigma das construções periféricas e subúrbios sem infra-estruturas de que cheias e incêndios iriam tomar conta.


Do lado contrário, a Europa continuava a precisar de mão de obra depois da devastação da Segunda Guerra Mundial. Hospedados em bidonvilles nos arredores de Paris, ou junto às obras de outras cidades europeias, os números desta década são da ordem do milhão de emigrantes. Como consequência, Portugal assistiu a uma desertificação do interior, a uma limitação das saídas do país e a uma falta de mão de obra que levou a que as mulheres comecassem a trabalhar fora de casa.

Mas foi devido a esta internacionalização que se assistiu a casos como o dos dois irmãos do Porto, residentes na Bélgica, António e Fernando Lameirinhas, que sob os nomes de Tony e Waldo Lam ou Jess & James, formaram a JJ Band, com ex-membros dos Manfred Mann e dos Crazy World of Arthur Brown, e gravaram diversos e bem sucedidos singles e LP's. Outro caso de sucesso foi o de João Vidal Abreu, que "emigrou e fugiu a salto, da incorporação nas Caldas da Rainha, em 1967, após ter sido humilhado a cortar a sua farta cabeleira", para Espanha. Lá juntou-se aos Grimm, abrindo-os para o psicadelismo com o seu teclado e em 1970 fundou os Barrabás, banda de funk psicadélico que se tornou conhecida a nível mundial.

terça-feira, 28 de junho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 30

Foi também esta conjectura que permitiu que a Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, sob a mão de Manuel Castilho, organizasse um ciclo de conferências sob o nome de Popologia - Mitologias do Mundo Contemporâneo.


Dividido em dois géneros de eventos, debates e projecção de filmes, realizou-se entre os dias 19 e 29 de Março na Sociedade Nacional de Belas Artes e no Cinema Europa, em Campo de Ourique. Foram quatro sessões, uma dedicada à música pop, que contou com intervenções de João Manuel Alexandre do programa "Em Órbita", Ruben de Carvalho, Manuel Jorge Veloso, José Duarte e Jorge Peixinho e em que se ouviram e analisaram-se músicas de Manfred Mann, Kinks, Beatles, Cat Stevens, Bob Dylan e Simon & Garfunkel; outra dedicada às artes plásticas, com Rui Mário Gonçalves, José-Augusto França e Fernando Pernes e outra sobre cinema com Jorge Silva Melo, Fernando Lopes, João César Monteiro, António Pedro de Vasconcelos, Luís Galvão Telles, Eduardo Paiva Raposo e Fernando Guerreiro.

A sessão final consistiu num debate moderado por Pedro Vieira de Almeida, com o nome "O Pop e a Realidade Nacional" e outro por José Ferreira de Almeida "Movimentos de Juventude: Beatnicks, Provos e Hippies". No écran gigante do Cinema Europa foram exibidos "Os 4 Cabeleiras do Após Calipso" ("A Hard Day's Night"), de Richard Lester, com os Beatles, "A Máscara de Superargo" ("Superargo Contra Diabolick"), de Nick Nostro, "Como É Bom Amar" ("Bye, Bye Birdie"), de George Sidney, "Modesty Blaise, Mulher Detective" ("Modesty Blaise"), de Joseph Losey, e "Tarzan e a Caçadora" ("Tarzan and the Huntress"), de Kurt Neumann.


“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 29

1968: "POPologia!"

Por muito isolado que Portugal estivesse, com uma ponte e aeroporto, Lisboa tornou-se uma cidade cosmopolita. Ao longo da década a imprensa internacional tinha vindo a pôr os olhos em Portugal, fosse por causa do Santa Maria, do futebol, do escândalo ballet rose ou da sua costa, e Portugal era cada vez mais um destino turístico. De fora começaram a chegar novos hábitos, influências, cores e sons. Uma nova classe média aliada a uma cultura de massas adere aos bikinis, revistas, fotonovelas, colecções de cromos, pílula, sexo com e por prazer, festival da canção, concursos de mini saias, Miss Teenager e de Portugal, boutiques, tempos livres, clubes de férias e viagens, carros, televisões, frigoríficos, drogas, saldos, festa hippies em galerias, etc.

Influenciados pelo "Maio de 68" e pelas subculturas americanas, os "estudantes do Técnico decretam a Revolução Sexual com ocupação de instalações" e as autoridades fecham o local. Liberalizados os costumes, foram estes os anos que permitiram o instaurar de um cultura pop.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 28

Por esta altura, finalmente, já não se ouvia apenas os Beatles e os Shadows. Graças a antenas artesanais que captavam as rádios piratas, como a Radio Caroline, Radio England ou Radio London, que eram emitidas a partir de barcos ou plataformas abandonadas[1], podia-se ouvir as novidades que iam desde o folk ao soul passando pelo psicadelismo. Foi neste ano que surgiram Os Dolmens, da Madeira, os Xelbe 65, do Algarve, The Sheers, de Bragança, Os Lunicks, do Minho, Os Jactos, do Porto, Os Infernais, de Faro.

Mas também três das mais marcantes bandas portuguesas: os Chinchilas, que contavam na sua formação com Filipe Mendes, o Conjunto Universitário Hi-Fi, de Coimbra, que habilmente se movia dentro da estética psicadélica da costa oeste americana, e os Pop Five Music Incorporated, do Porto.

Em Lisboa, os Jets, três anos após a sua formação gravaram um EP para a editora Tecla. Com uma capa única em Portugal, de grafismo pop psicadélico, a música acompanhava-a. O seu equipamento, também único para a altura, consistia numa aparelhagem Vox, órgão de dois teclados e uma Gibson vermelha, entre muito outro material avaliado em milhares de contos. Tocavam a "15 mil escudos por actuação, ao câmbio da época, fora a dormida, alimentação e casa, durante as loucas - porque sexuais - digressões estivais (...) , meridionais coloridas e extravagantes com inglesas em desaforos sensoriais. (...) Liz e Frankie, as duas mentoras sexuais dos Jets, em 1965 (Lota, Lagos), 1966 (Ferragudo, «A Chaminé») e 1967 (Albufeira, «MCM») e introdutoras de afrodisíacos «spanish fly» (cantáridas) na vivência criativa musical e erótica", como descreveu o seu baterista João Alves da Costa. No ano seguinte, devido à incorporação militar o grupo desfez-se...



[1] http://www.offshoreradio.co.uk/