Estava-se em 1961 e numa altura em que "o público est[ava] arreigado à ideia, aliás
falsa, de que o rock é uma música para teddy boys, uma música para
transviados e que concorre para actos menos dignos". Por essa
razão, cuidadosamente, alguns músicos optam por uma "nacionalização do rock",
como lhe chama Zeca do Rock, por "criar um estilo de Rock português" para afastar essas conotações.
(retirado de guedelhudos.blogspot.pt) |
Assim, a partir daí, começam a fazer e a ouvir-se músicas
com nomes como Nazaré Rock e Hino a Jesus, assim como versões
instrumentais e "modernas", à Shadows,
de temas tradicionais, como o Vira da Nazaré, tocado pelos Titãs ou o Alecrim tocado pelo Conjunto Mistério. Por opção ou por obrigação, o que é certo é que tocar temas populares era uma
forma de agradar a novos e velhos e de conseguir mais oportunidades de tocar ao
vivo em bailes e festas privadas sem causar grande alarido. Opção que fazia
algum sentido especialmente quando os jovens músicos dependiam dos cachets
recebidos nestes circuitos para pagar as prestações dos instrumentos. Caso contrário, como
constata António Duarte no livro A
Arte Eléctrica de Ser Português, quando “os bailaricos em liceus, em
colectividades ou centros de convívio não chegam para arranjar a massa, são os
pais que cobrem a despesa das prestações"…
(retirado de aja.pt) |
Os alinhamentos dos conjuntos nestes anos consistiam,
por isso, nessas versões de temas populares, adaptadas a ritmos modernos, ou
não, mas também versões portuguesas de êxitos internacionais. Esta era também uma
das exigências das editoras, caso quisessem gravar e, como tal, era comum que
os conjuntos se dedicassem a essa “arte” da imitação, que, de resto, como se
verá mais adiante, era louvada e premiada pelas instituições e autoridades. A
criatividade e a originalidade dos conjuntos limitava-se, nessa forma redutora
e auto-censória, à tradução livre da letra inglesa e a algumas composições dos
autores que talvez tivessem sorte de alguém gostar…
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