quinta-feira, 6 de abril de 2017

"A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós" (Parte 2)



«Retomando o ano de 1964, nos primeiros meses entendiam-se ainda os Beatles como apenas mais um conjunto e a maioria (sobretudo dos leitores) esperava que como moda fosse efémera. No entanto, a “invasão britânica” aos Estados Unidos e a transformação dos Beatles num fenómeno pop veio contradizer essas “análises”. A meio da década, as revistas começaram então a explorar a já apelidada de Beatlemania e entre 1964 e 1966 encheram-se centenas de páginas para falar de tudo o que dizia respeito aos Beatles. Falou-se das namoradas, das noivas, das mulheres, das famílias. Descreveu-se a euforia vivida nos concertos, os “desmaios colectivos, crises de histerismo”, como as “raparigas com os olhos fora das órbitas, ajoelhavam-se” quando os viam, e, entre os fans destacou-se “uma admiradora - a rainha”. Opinou-se muito, quase obsessivamente, sobre cabelos, “cabeleiras”, sobre os “guedelhudos”. Com toda esta campanha e simpatia estabeleceram-se os Beatles como a principal referência musical da «juventude “nova vaga”» e esta começou a imitá-los como podia ou sabia. Assim, pouco depois, já se ouviam centenas de conjuntos portugueses a tocar ao vivo por todo o país e em discos, começava-se a vestir, pentear e dançar de outras e muitas formas diferentes, a ler novas revistas, como a Álbuns Yé! Yé!, Álbum da Canção e a Pop Cine e a ver novos filmes...

Portugal tinha, finalmente, o seu yé-yé. Consequentemente também os seus opositores. Pais, família, professores, padres, começaram então a preocupar-se com os ligeiros desvios (o pior estava para vir) dessa juventude “conturbada” e “em cólera”, como descreviam alguns. E preocupados ou fartos das “manifestações de histeria e fanatismo” e de modo a precaver “modernismos excessivos” achavam por bem, ou pelo bem da nação, começar a educá-los. Serviram-se para isso de algumas páginas onde se tentava esclarecer o leitor sobre o que estava a acontecer aos jovens, elucidando-os nas medidas a tomar.

Como seria de esperar, o que para uns parecia ser um ultraje para outros era aliciante, promissor e até esperançoso. A partir de 1966, os Beatles, como aliás muita da nova música que se importava, passavam a representar outras ideias de realidade e até de liberdade. Algo que os novos jornalista e amadores complementavam usando os artigos para dar a conhecer as novas tendências desde a música à literatura, do cinema à moda, passando pela filosofia e política, partilhando novas referências e mundos. Leia-se, por exemplo, o que escreveu Filipe Duarte, devidamente informado e subversivo, para a Flama»


"A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós" 

in  
 

Sem comentários:

Enviar um comentário