quarta-feira, 5 de abril de 2017

"A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós" (Parte 1)

«Em Agosto de 1966 lia-se numa página do jornal: “A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós”. No entanto, já de há três anos a essa parte que os Beatles figuravam em larga escala na imprensa portuguesa e, independentemente da razão, já se tinham tornado populares. Usados conforme o gosto e a necessidade do jornalista ou do editor e até de outras entidades maiores, os Beatles serviram para todo e qualquer fim, como se perceberá ao longo destas 130 páginas resultantes da excelente e incansável pesquisa de Abel Rosa.

Resumidamente, da curiosidade pelo fenómeno (1963) passou-se à exaltação por uns e à condenação por outros (1964-65), acompanhou-se todo o espectro da Beatlemania para culminar, depois da “blasfémia” de John Lennon, numa reprovação (1966). Corria então esse ano de 1966 e por essa altura os Beatles já estavam fora dos olhares e dos circuitos públicos, trancados em estúdios (1967), deambulando pela Índia (1968), a separarem-se - das suas mulheres e uns dos outros. As prioridades dos “quatro” eram outras e as dos jornais também passaram a sê-lo. Assim, depois da elevação e do louvor, algumas revistas e jornais entretiveram-se mais com curiosidades sensacionalistas e com a divulgação dos “milhares de defeitos” dos “gadelhudos” – “virilizavam-se”, diziam alguns – enquanto outros serviam-se dos Beatles para a divulgação paralela e furtiva de novas ideias. Da música propriamente dita raramente se falou …Mas voltemos atrás - e obrigatoriamente aos incontornáveis dois volumes compilados a partir de revistas - para percebermos a ascensão e queda dos Beatles na imprensa portuguesa. 

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Terceiro fenómeno de massas juvenil – antecedido por Elvis Presley, que não teve impacto por cá, e pelos The Shadows – os Beatles chegam a Portugal primeiramente através das páginas dos jornais e revistas. Noticiados pela primeira vez a 25 de Outubro de 1963 no Jornal de Notícias, na ausência de imprensa especializada, foram sobretudo as revistas informativas - O Século Ilustrado, Flama -, as de variedades –Plateia, Revista TV, Rádio & Televisão – e as infanto-juvenis – Zorro – que, a partir de 1963, deram espaço aos Beatles. Olhando para o “quarteto de Liverpool” inicialmente com curiosidade mas logo com estupefacção, nesse ano e no seguinte escreveu-se muito sobre os Beatles mas sobretudo como fenómeno comercial e sociológico. Escreveu-se sobre quantos discos vendiam, sobre o quanto ganhavam (e gastavam), tal era o pasmo com os números debitados na imprensa internacional – chocante para o pobre Portugal desses anos – e procurou-se perceber como aqueles quatro “gadelhudos” atingiram a dimensão que já tinham em 1964, entender o modo como se construiu o fenómeno. Sobre a música dos “cabeludos”, pouco ou nada se escreveu, sendo a excepção Paulo de Medeiros, responsável pela coluna “Gira Discos” no Diário Popular, que assinou umas (poucas) linhas sobre os discos que iam sendo editados. Seria também esse o jornal que maior atenção daria aos Beatles com a publicação regular de notícias. Seguiram-lhe o Diário de Lisboa, muito por causa de uma equipa mais jovem, e também o Século. De resto, foram estes os jornais que deram maior atenção e informação mais cuidada sobre as novas correntes, sendo inclusivamente esse último jornal o responsável pelo grande concurso yé-yé de 1965 e 1966.»



"A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós" 
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