Resumidamente, da curiosidade pelo fenómeno (1963)
passou-se à exaltação por uns e à condenação por outros (1964-65),
acompanhou-se todo o espectro da Beatlemania
para culminar, depois da “blasfémia” de John Lennon, numa reprovação (1966).
Corria então esse ano de 1966 e por essa altura os Beatles já estavam fora dos olhares e dos circuitos públicos,
trancados em estúdios (1967), deambulando pela Índia (1968), a separarem-se -
das suas mulheres e uns dos outros. As prioridades dos “quatro” eram outras e as dos jornais também
passaram a sê-lo. Assim, depois da elevação e do louvor, algumas revistas e
jornais entretiveram-se mais com curiosidades sensacionalistas e com a
divulgação dos “milhares de defeitos” dos “gadelhudos” – “virilizavam-se”,
diziam alguns – enquanto outros serviam-se dos Beatles para a divulgação paralela e furtiva de novas ideias. Da
música propriamente dita raramente se falou …Mas voltemos atrás - e
obrigatoriamente aos incontornáveis dois volumes compilados a partir de
revistas - para percebermos a ascensão e queda dos Beatles na imprensa portuguesa.
*
Terceiro fenómeno de massas juvenil – antecedido por Elvis Presley, que não teve impacto por
cá, e pelos The Shadows – os Beatles chegam a Portugal primeiramente
através das páginas dos jornais e revistas. Noticiados pela primeira vez a 25
de Outubro de 1963 no Jornal de Notícias,
na ausência de imprensa especializada, foram sobretudo as revistas informativas
- O Século Ilustrado, Flama -, as de
variedades –Plateia, Revista TV, Rádio & Televisão – e as
infanto-juvenis – Zorro – que, a
partir de 1963, deram espaço aos Beatles.
Olhando para o “quarteto de Liverpool” inicialmente com curiosidade mas logo
com estupefacção, nesse ano e no seguinte escreveu-se muito sobre os Beatles mas sobretudo como fenómeno
comercial e sociológico. Escreveu-se sobre quantos discos vendiam, sobre o
quanto ganhavam (e gastavam), tal era o pasmo com os números debitados na imprensa
internacional – chocante para o pobre Portugal desses anos – e procurou-se
perceber como aqueles quatro “gadelhudos” atingiram a dimensão que já tinham em
1964, entender o modo como se construiu o fenómeno. Sobre a música dos
“cabeludos”, pouco ou nada se escreveu, sendo a excepção Paulo de Medeiros,
responsável pela coluna “Gira Discos” no Diário
Popular, que assinou umas (poucas) linhas sobre os discos que iam sendo
editados. Seria também esse o jornal que maior atenção daria aos Beatles com a publicação regular de
notícias. Seguiram-lhe o Diário de Lisboa,
muito por causa de uma equipa mais jovem, e também o Século. De resto, foram estes os jornais que deram maior atenção e
informação mais cuidada sobre as novas correntes, sendo inclusivamente esse
último jornal o responsável pelo grande concurso yé-yé de 1965 e 1966.»
"A popularidade dos Beatles nunca foi grande entre nós"
in
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