Zeca do Rock
É também nesse final dos anos 50, que José das Doures
começa a aprender a tocar guitarra. Estreando-se em 1959 no
programa Bom Dia de José Oliveira Cosme é lá que
recebe a alcunha pela qual hoje é conhecido, Zeca do Rock.
Influenciado pelo rock 'n' roll norte-americano de então, canta em
inglês e em português e opta ao contrário de outros, por fazer as suas próprias
músicas. É dessa altura que data Nazaré Rock, que viria a ser gravada
para o seu primeiro disco. Editado em 1961 este acabaria por ficar conhecido
não pela referida música mas por outra, Sansão foi Enganado, música hoje
recorrentemente referida por ser aquela em que ficou registado o primeiro yeah! gravado em Portugal…
Embora, julgando pelo conteúdo do disco, tudo aparente
ser inocente ou convencional o seu percurso musical não o foi. Considerado
"aos olhos do governo fascista” como “um opositor declarado, uma figura
perigosa, incómoda, rebelde, capaz de liderar a juventude, o que representava um
perigo para o sistema", conforme conta em entrevista a João Aldeia para o
site vilardemouros1971, Zeca do Rock viu-se então remetido para
as emissoras privadas e, nunca mais podendo gravar, teve de se cingir ao
circuito das actuações ao vivo.
Apesar de tudo a sua carreira como Zeca do Rock durou sete anos e além do referido disco ficou também
registado no filme de Henrique de Campos Pão, Amor e Totobola (1964), onde faz de líder de gang de rockers e canta Twist para
Dois. No entanto, apesar de dizer que deixa a música, o seu nome reaparece
em 1970, quando Sérgio Borges e o
Conjunto Académico de João Paulo adaptam a sua composição Aguarela
Portuguesa sob o nome O Lavrador e, em 1972, quando os mesmos gravam
God of Negroes. Escrita aquando da sua estadia na Guiné, onde Zeca do
Rock chegou a ter um conjunto, esta é, nas suas palavras, «uma balada pungente,
verdadeiro “negro espiritual”, como apelo derradeiro para a salvação de um povo
inocente e infeliz, a quem mais ninguém parecia poder socorrer». Pertinente para
os tempos que então corriam…
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