terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Rock 'n' Roll em Portugal (1955-1959): Parte III


Zeca do Rock

É também nesse final dos anos 50, que José das Doures começa a aprender a tocar guitarra. Estreando-se em 1959 no programa Bom Dia de José Oliveira Cosme é lá que recebe a alcunha pela qual hoje é conhecido, Zeca do Rock. Influenciado pelo rock 'n' roll norte-americano de então, canta em inglês e em português e opta ao contrário de outros, por fazer as suas próprias músicas. É dessa altura que data Nazaré Rock, que viria a ser gravada para o seu primeiro disco. Editado em 1961 este acabaria por ficar conhecido não pela referida música mas por outra, Sansão foi Enganado, música hoje recorrentemente referida por ser aquela em que ficou registado o primeiro yeah! gravado em Portugal…

Embora, julgando pelo conteúdo do disco, tudo aparente ser inocente ou convencional o seu percurso musical não o foi. Considerado "aos olhos do governo fascista” como “um opositor declarado, uma figura perigosa, incómoda, rebelde, capaz de liderar a juventude, o que representava um perigo para o sistema", conforme conta em entrevista a João Aldeia para o site vilardemouros1971, Zeca do Rock viu-se então remetido para as emissoras privadas e, nunca mais podendo gravar, teve de se cingir ao circuito das actuações ao vivo.

Apesar de tudo a sua carreira como Zeca do Rock durou sete anos e além do referido disco ficou também registado no filme de Henrique de Campos Pão, Amor e Totobola (1964), onde faz de líder de gang de rockers e canta Twist para Dois. No entanto, apesar de dizer que deixa a música, o seu nome reaparece em 1970, quando Sérgio Borges e o Conjunto Académico de João Paulo adaptam a sua composição Aguarela Portuguesa sob o nome O Lavrador e, em 1972, quando os mesmos gravam God of Negroes. Escrita aquando da sua estadia na Guiné, onde Zeca do Rock chegou a ter um conjunto, esta é, nas suas palavras, «uma balada pungente, verdadeiro “negro espiritual”, como apelo derradeiro para a salvação de um povo inocente e infeliz, a quem mais ninguém parecia poder socorrer». Pertinente para os tempos que então corriam…

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