segunda-feira, 4 de julho de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 33

1969: "Novas Perspectivas para a Música Portuguesa"

Depois de cheias e incêndios, o final da década foi marcado por um sismo em Lisboa, violência policial e o pop-larucho. Também cada vez mais um ponto de passagem ou de férias, o turismo em Portugal atingiu o número de 2,8 milhões de estrangeiros. Com a auto-estrada do Norte e a Ponte da Arrábida, Portugal parecia mais pequeno, com o metro, avenidas e um sem número de dormitórios, Lisboa tinha se tornado Grande. Entretanto, continuavam as greves de estudantes, as tentativas de assembleias e agrupamentos eram dispersos pela polícia com violência, e alguns membros das associações foram enviados para a frente africana.


Por esta altura já toda a inocência dos Beatles se tinha perdido. Também as bandas que se ouviam eram outras. Dos Cream aos Vanilla Fudge, da Plastic Ono Band ao Tropicalismo brasileiro, esta introdução de vertentes musicais cada vez mais pesadas, mais também mais jazzísticas ou progressivas, começaram a dar origem a experimentações e pesquisas sonoras que se fizeram ouvir nos Fluído, de Paulo de Carvalho, nos Psico, ex-Os Espaciais, nos Pentágono, Beatnicks, Objectivo ou Heavy Band. Sem João Alves da Costa, que por essa altura devia andar em viagens pelos Estados Unidos, alguns dos Jets formaram os Sindicato e também ainda dentro do experimentalismo mas mais expansivos, os Ephedra entregavam à audiência experiências extrasensoriais, enquanto os L.S.D.- Liga Semente e Dois- assumiam descaradamente as suas influências. Por outro lado, os Ex-Libris usavam a música para mostrar o caminho do Senhor.


Noutras vertentes, misturando raízes tradicionais com uma herança do folk, a música de intervenção já se tinha imposto, com Luís Cília, José Mário Branco, José Afonso e Daniel, com o seu "chicote de fios de aço". Igualmente atentos, a Filarmónica Fraude era "realmente, e muito especialmente: um olhar arguto e lúcido sobre uma circunstância... sátira e crítica de costumes. Constatação. A reportagem de um país através dos seus homens, das suas raízes, dos seus hábitos, dos seus mitos e das suas palavras"[1]. Tiveram problemas com o seu LP "Epopeia", não só pelo conteúdo, mas também pela assinatura da artista que concebeu a capa, Lídia Martinez, que assinou como “Lídia 69”... No ano seguinte, o LP do Quarteto 1111 é apreendido.



[1] Maria Teresa Horta in Mundo da Cancao, no.3, Fevereiro de 1970

Sem comentários:

Enviar um comentário