sexta-feira, 4 de março de 2011

“Ritmos Modernos da Nova Vaga: o rock em Portugal na década de 60” – Parte 9

Se 1961 foi o ano do criação da Polícia de Choque, o ano em que é publicada a carta pela emancipação feminina no jornal estudantil Via Latina, o ano em que o Benfica trouxe para casa a Taça dos Campeões Europeus e o do desvio do navio Santa Maria, 1962 em que o governo decreta a proíbição do Dia do Estudante. Sucederam-se então manifestações estudantis e foi declarado o "luto académico", que se prolongou até aos exames e incluiu greves de fome e o encerrar da Associação Académica de Coimbra pela polícia. Já politizados, os jovens entravam numa batalha, muitas vezes física, e que iria atravessar toda a década de 60. Ainda nesse ano de 1962, um avião da TAP foi desviado e foram lançados folhetos da Frente Anti-Totalitária dos Portugueses no Estrangeiro sobre Lisboa, e foi proibida a prostituição.

No entanto, na música nada disso se reflectiu. Como que alheias a tudo o que se passava, até mesmo em termos de cultura juvenil que começava a surgir em Portugal, as letras continuavam a ser sobre amores juvenis e pouco mais.

Noutro registo, no cinema, chegava o Cinema Novo Português pelas mãos dos que tinham estudado no estrangeiro e que estiveram em contacto com a Nouvelle Vague, mas também dos que ficaram por cá atentos ao que a Cinemateca Portuguesa e os cine-clubes vinham a exibir. Novos em termos técnicos e de conteúdos, filmes como Dom Roberto (1962), de José Ernesto de Sousa, Os Verdes Anos (1963), de Paulo Rocha, e as produções de António da Cunha Telles vieram abrir uma ruptura, trazendo uma nova realidade e realismo. Foi, no entanto, Fernando Lopes que, no ano de 1963, no seu Belarmino, captou o plano que definiria a década, em toda a sua claustrofobia, solidão e luta: Belarmino em contra-luz ao fundo de um túnel a lutar sozinho.



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