sexta-feira, 31 de março de 2017

Conjunto João Paulo no Ultramar (1968)

Uns viajam para Londres, outros viajam para o Ultramar. A partir de 1967 a maioria dos conjuntos desfaz-se e vai cada membro para o seu lado, para cumprir o que se entendia como "dever". Alguns têm a sorte de permanecer juntos, como conjunto, e são "convidados" para tocar para tropas. Foi o caso d'Os Conchas, logo no início da década e, mais tarde, do Conjunto Académico João Paulo. Estes já tinham feito duas "digressões" pelo Ultramar, em 1965 e 1966, e em 1968 voltam a fazer mais uma, já como militares.


Um ex-combatente, no seu blog, partilha uma fotografia de um desses concertos na Guiné, em Abril de 1968:


Outro ex-militar, num outro site, deixa também o seu depoimento de um concerto dessa digressão, desta vez em Angola:

«Dia e meio depois, foi o regresso ao Inferno do Chimbete, onde estava o nosso aquartelamento. Pelas 22 horas da véspera de Natal de 1968, fomos recebidos com uma anormalidade, que ainda hoje, passados 41 anos me causa arrepios. Não é que de Luanda, nos tinham enviado o “Conjunto João Paulo” para nos confortar?

Como é possível sermos tão frios e insensíveis à morte dos outros!»

quarta-feira, 29 de março de 2017

Swinging London na imprensa portuguesa

No final da década já se publicitam viagens a Londres. Excepto para os que liam os Cahiers du Cinéma, Paris já não é a cidade de referência.  Em 1968 queria-se ir à terra dos Beatles, ver e ouvir a "Swinging London", fazer compras em Carnaby e Oxford Street. Viver tudo aquilo que os ingleses que visitavam o Algarve contavam. Viver o que se via nos filmes. As agências de viagens começam então a promover Londres como "o" destino turístico para jovens.


quinta-feira, 23 de março de 2017

Paula Ribas Rock and Roll?!?

Nem as editoras nem as revistas souberam arrumar a Paula Ribas. Ora representava o twist em Portugal - oiça-se a sua "Vamos Dançar o Twist", onde chega a ensinar alguns passos para acompanhar esse novo ritmo - ora era cançonetista. Tanto tentavam apelar ao público mais novo como impingiam-na ao mais velho. O texto da contracapa do EP "Gostava de Ser o Sol" é disso exemplificativo: «Os apreciadores de música moderna, incluindo "rock and roll", vão certamente rejubilar com estas novas gravações a cançonetista Paula Ribas". Duvido.


Mas é verdade que a música de Paula Ribas encaixa em vários géneros. Da sua longa e prolifera (e hoje esquecida) carreira destaque-se a versão que faz de "Pena Verde" do cantor português radicado no Brasil, Abílio Manoel.



domingo, 19 de março de 2017

Françoise Hardy na Mundo da Canção (1970)

No final da década de 60, Françoise Hardy já não é vista um rapariga yé-yé mas como uma "cantautora", influenciada por Leonard Cohen, de quem faz uma versão de "Suzanne", e Bob Dylan, que em tempos a perseguira e dedicara um poema. Apesar de já não ter o impacto de outrora, os seus discos continuam a ser editados em Portugal e algumas das suas letras são publicadas na "Mundo da Canção".



sábado, 18 de março de 2017

Françoise Hardy "em Portugal" (1968)

É Arnaldo Trindade quem edita os discos de Françoise Hardy em Portugal. Em 1968 sai "Comment Te Dire Adieu", um disco que inclui uma versão e uma música escrita por Serge Gainsbourg e uma versão de Leonard Cohen, indícios do caminho que vai seguir. A fotografia da capa é (mais uma vez) de Jean-Marie Périer.





quarta-feira, 15 de março de 2017

Marianne Faithfull "em Portugal"

Marianne Faithfull chega a Portugal por arrasto. É importada como mais uma rapariga yé-yé, embora inglesa. E vem junto com os Beatles. A versão que gravou de "Yesterday" é editada em Portugal em 1965, num EP com mais três músicas.


Apesar da imagem de menina angelical, que o próprio nome sublinha, esta é rapidamente destruída a partir do momento em que se associa aos The Rolling Stones. Pouco tempo depois já é descrita como "original e inquieta" para logo ser ignorada.


Marianne Faithfull só voltaria a ter alguma visibilidade neste país no início dos anos 80 quando é por cá editado o álbum "Broken English".

*

Com curiosidade acrescente-se que Derek Jarman realizaria vídeos para três músicas desse disco:



quinta-feira, 9 de março de 2017

France Gall na Pop Cine (1967)


Portugal teve a melhor relação com a França durante as “invasões britânicas”. A música francesa esteve sempre presente, e de forma massiva, no mercado português, especialmente os discos das raparigas do yé-yé. Entre elas, as mais populares foram a Françoise Hardy e a Sylvie Vartan. Embora não tendo o destaque destas, recorrentes nas páginas da imprensa portuguesa, France Gall também teve o seu lugar, especialmente depois de ter participado no Festival Eurovisão de 1965.


segunda-feira, 6 de março de 2017

Elvis Presley "In The Ghetto"

Depois do seu "comeback" de '68, Elvis Presley volta a estúdio. Uma das primeiras músicas que grava é "In The Ghetto".


A música, inicialmente chamada "The Vicious Circle", foi escrita por Mac Davis, embora ele tenha assinado com o nome do filho, Scott. Numa entrevista conta:
My daddy was a small building contractor. There was a guy named Alan Smith that had worked for him for years and years. He was just like part of the family. He was a black man and his little boy, Smitty Junior, was my age and he and I used to play together. Our daddy's would be working and in the summertime Smitty would hang out with me. They lived in a really funky dirt street ghetto. Today's term would be a ghetto. The term 'ghetto' had started to become popular to describe the urban slums. The word was used during the Holocaust to describe those situations but they hadn't used it in an American context until the late Sixties. Smitty Junior lived in a part of Lubbock called Queen City. They had dirt streets and broken glass everywhere. I couldn't understand how these kids could run around barefoot on all that broken glass, I was wondering why they had to live that way and I lived another way. Even though we weren't wealthy or anything it was a whole big step up from the way that Smitty Junior had to live. (...)
A child is born in a situation, his father leaves and he ends up acting out and becoming his father. Being born and dying and being replaced by another child in the same situation is basically what I was talking about. Dying is a metaphor for being born into failure. Being born into a situation where you have no hope. If you listen to the song it's more poignant now than it was then. Instead of getting better it's gotten worse. Back then we had gangs and violence in a few cities, now we have it in almost every American city.(...)
Elvis improved on "In The Ghetto." In fact, it was Elvis' idea to add another "and his mama cries" at the end of that song. I didn't write that in there originally. The song originally finished (sings) "And another little baby child is born ...in the ghetto." That was the end of it. Elvis threw in (sings) "and his mama cries." To me the circle had been done but he just emphasized it by saying "and his mama cries" again. I think he definitely improved it by doing that. It would have been a hit without him doing it but I still think he improved it.
Esta música foi gravada juntamente com "Suspicious Minds", "Kentucky Rain" e "Don't Cry Daddy" no início de 1969. No ano seguinte são editadas em Portugal sob a forma de dois discos, "In The Ghetto" e "Suspicious Minds".


A revista "Mundo da Canção" chega a imprimir a letra de "In The Ghetto".

A música voltaria a ser ouvida em 1977 quando esse mesmo disco é reeditado. E em 1984, quando Nick Cave & The Bad Seeds a regrava.

sexta-feira, 3 de março de 2017

"Operação Dinamite" (1967)


“Operação Dinamite” é um filme realizado por Pedro Martins com Nicolau Breyner, Armando Cortez, Glória de Matos, Simone de Oliveira, Helena del Rubio, Eduardo Cortez, Francisco Nicholson, Henriqueta Maya, Carlos José Teixeira. Rodado entre Junho e Agosto de 1966, em Lisboa, Cascais, Arrábida e Luanda. o filme estreia a 19 de Abril de 1967 no Cinema Odeon em Lisboa.


José de Matos-Cruz, no seu livro “O Cais do Olhar” (1999) descreve o enredo:

«A temerária missão dum agente secreto americano, Max, que desafia todos os perigos no decorrer duma luta sem tréguas, para se apoderar dum "dossier" secreto, roubado dos arquivos do Pentágono, e que se suspeita ter caído nas mãos dum bando de espiões que actuam em Lisboa, e pretendem levá-lo para o Oriente...»

Com argumento de Francisco Nicholson, “Operação Dinamite” é uma comédia sem piada que parodia os filmes de acção e espionagem então em voga - 007 e todos os seus sucedâneos - sem ter, contudo, qualquer força, entusiasmo ou mesmo emoção. Saldanha da Gama, no Diário da Manhã, só poderia estar a gozar quando descreve «o desempenho de Nicolau Breyner refreado na sua exuberância e que na pele de um agente secreto se mostra tão à vontade nas passagens amorosas como nas cenas de rija pancadaria…»



A banda-sonora é da responsabilidade de Eugénio Pepe e do conjunto Rueda+4. Estas viriam a ser editadas sob o formato de EP na Riso e Ritmo Discos, de Francisco Nicholson. Além disso ouve-se ainda Simone de Oliveira e o Duo Ouro Negro.


É precisamente na música que reside um dos pontos de interesse deste filme. Não nas dos Rueda+4, que não são particularmente interessantes, mas na sequência em que se vê e ouve o Duo Ouro Negro a tocar no “Sanzala”. Graças a este filme, ficámos com um registo cinematográfico tanto do Duo a tocar ao vivo como desse “Restaurant Typique Dancing” do Campo Grande, como descrevia publicidade da época, de “ambience totalmente Africaine”.

Apesar de Lisboa e arredores terem sido, efectivamente, palcos de manobras de espionagem de contornos internacionais especialmente durante a II Guerra Mundial, tal facto raramente foi explorado pelo cinema português. Ao “estilo internacional” que este género de filmes exige sobrepôs, quase sempre, o “estilo nacional” do humor à Parque Mayer e do romantismo barato e moral. Fizeram melhor trabalho escritores e realizadores estrangeiros assim como António de Macedo no seu “Sete Balas para Selma”.

Para terminar, acrescente-se que o lucro do filme, segundo a publicidade da época, destinou-se ao “Fundo de auxílio às famílias dos marinheiros mortos em campanha no Ultramar”.


quinta-feira, 2 de março de 2017

João Alves da Costa (Jets) sobre os Beatles

Depois de os Jets acabarem, o baterista João Alves da Costa envereda pelo jornalismo. Nas páginas do Diário Popular publica uma série de colunas entre as quais esta sobre "Salazar e os Beatles". "Dizia-se"...