"Boîte -- Das evoluções semânticas mais espantosas. Nos anos 60 era uma
palavra que designava a cave moderna e escura ié-ié, onde se dançavam os
inefáveis slós e os trepidantes «twists». Por essa altura, discoteca
era expressão exclusivamente reservada a lojas de venda de discos (a
Arnaldo Trindade, a Discoteca do Carmo, a Discoteca Universal). Só nos
anos 70, com a abertura do Charlie Brown, José Manuel Simões impôs à
Direcção-Geral de Espectáculos o termo discoteca no novo sentido de
lugar para dançar. «Boîtes» eram todas as outras, do Palm Beach, em
Cascais, ao Caruncho, em Lisboa.
Depois, por razões obscuras,
passou a ser a denominação eufemística das casas de meninas. É mesmo o
termo oficial, aquele a que quase todas aderem. O pobre do «dancing»,
que fora apanágio do Nina ou do Maxime, é hoje preterido unanimemente a
seu favor.
Na pré-história disto tudo circula o «cabaret» da
viragem e do princípio do século (de que o «cabaret» berlinense é caso à
parte) e, já na idade média da democratização da noite, o «caveau»
existencialista, que cresceu como cogumelos nos anos 50, à sombra da
Gréco e das fumarolas existencialistas de Montmartre.
Mas, nesta
como noutras questões linguísticas, o legado francês tende para a
obsolescência. Hoje em dia, já ninguém diz que vai a uma «boîte», a não
ser por piscadela de olho saudosista, e as noites têm especializações
que só a noite conhece: «raves», bares, «after-hours», que acontecem
conforme a hora e o local em que se encontre."
In Jornal Público
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Cortesia de sf
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