sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Boites

"Boîte -- Das evoluções semânticas mais espantosas. Nos anos 60 era uma palavra que designava a cave moderna e escura ié-ié, onde se dançavam os inefáveis slós e os trepidantes «twists». Por essa altura, discoteca era expressão exclusivamente reservada a lojas de venda de discos (a Arnaldo Trindade, a Discoteca do Carmo, a Discoteca Universal). Só nos anos 70, com a abertura do Charlie Brown, José Manuel Simões impôs à Direcção-Geral de Espectáculos o termo discoteca no novo sentido de lugar para dançar. «Boîtes» eram todas as outras, do Palm Beach, em Cascais, ao Caruncho, em Lisboa.

Depois, por razões obscuras, passou a ser a denominação eufemística das casas de meninas. É mesmo o termo oficial, aquele a que quase todas aderem. O pobre do «dancing», que fora apanágio do Nina ou do Maxime, é hoje preterido unanimemente a seu favor.

Na pré-história disto tudo circula o «cabaret» da viragem e do princípio do século (de que o «cabaret» berlinense é caso à parte) e, já na idade média da democratização da noite, o «caveau» existencialista, que cresceu como cogumelos nos anos 50, à sombra da Gréco e das fumarolas existencialistas de Montmartre.

Mas, nesta como noutras questões linguísticas, o legado francês tende para a obsolescência. Hoje em dia, já ninguém diz que vai a uma «boîte», a não ser por piscadela de olho saudosista, e as noites têm especializações que só a noite conhece: «raves», bares, «after-hours», que acontecem conforme a hora e o local em que se encontre."


In Jornal Público
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Cortesia de sf

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