Faleceu
no passado dia 5 de Outubro o realizador António de Macedo. Foi ele um dos poucos
realizadores portugueses a prestar atenção à música que os mais novos faziam e
a saber explorá-la de acordo com as novas linguagens
cinematográficas. São os Quinteto Académico os escolhidos para fazer a
banda-sonora do seu primeiro filme de longa-metragem, “Domingo à Tarde” (1965).
Isto ainda antes de terem gravado o primeiro disco.
Seriam também os Quinteto Académico a fazer a banda-sonora de “Sete
Balas para Selma”. Aí acompanham Florbela Queiroz que canta duas músicas que
têm a particularidade das letras terem sido escritas por Alexandre O’ Neill e
de serem filmadas a cores.
Capa e contracapa da revista Almanaque, 1960. |
Como,
aliás, se pode ver também nas sequências, mais ousadas, livres até, que António
de Macedo realiza para o “Cine Almanaque”, um jornal cinematográfico da responsabilidade
de António da Cunha Telles.
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Infelizmente
o realizador ainda precisa de uma apresentação. Resumidamente, antes de ser
cineasta, António de Macedo desenhou jóias, trabalhou como arquitecto na Câmara
Municipal de Lisboa e, com apenas vinte e poucos anos, em 1959, aventura-se na
sua primeira experiência cooperativa – juntamente com dois amigos constitui, o
Clube Bibliográfico Editex, onde edita o seu “A Evolução Estética do Cinema”,
um livro seminal, cujo título é explícito relativamente ao conteúdo. Ao livro
seguem-se trabalhos como crítico em revistas e jornais.
Em
1961, finalmente, realiza as primeiras experiências cinematográficas: “Ode
Triunfal” (1961) e “A Primeira Mensagem” (1961). Em 1963 realiza “Verão
Coincidente”, com base num poema de Maria Teresa Horta. Dois anos depois
estreia o seu “Domingo à Tarde”
(1965), uma adaptação do livro de Fernando Namora e um dos filmes fundadores do
Cinema Novo Português. Passados outros dois anos, realiza um filme de aventuras
surpreendentemente pop, tanto
divertido como inteligente, “Sete Balas para Selma” (1967).
Logo
de seguida monta o que descreve como um “filme de desespero”, “Nojo aos Cães”
(1970). Este é proibido pela censura portuguesa e premiado no Festival de
Benalmadena.
Segue-se “A Promessa” (1972), baseado no livro homónimo de
Bernardo Santareno, que será o primeiro filme português a ser seleccionado para
competição em Cannes e o vencedor do
primeiro prémio do festival de Belgrado. Em Portugal, é censurado. Entre estas longas-metragens, realiza
ainda curtas-metragens publicitárias, mais experimentais, arriscadas, livres,
até. É o caso dos jazzísticos
“Nicotiniana” (1963) e “5 Temas para Refinaria & Quarteto” (1971), do quase
cruel “Cenas de Caça no Baixo Alentejo” (1973) e de outros mais.
Mais
do que um cineasta, António de Macedo tem um papel central nos desenvolvimentos
do cinema em Portugal. É ele, juntamente com António da Cunha Telles, um dos
membros fundadores da primeira cooperativa de cinema, o Centro Português de
Cinema, no activo a partir de 1969. Em 1974, depois de uma primeira e breve
carreira como docente, funda a cooperativa Cinequanon.
Esta funcionaria durante duas décadas e é sob a sua alçada que, nos anos do
P.R.E.C., vai registar o Portugal em inúmeras curtas-metragens. Estas culminam
no polémico “Fátima Story” que, por sua vez, dará origem ao não menos polémico
“As Horas de Maria”, de 1976, estreado apenas em 1979 e no qual nos vamos
centrar neste artigo.
Apesar
de premiado, e apesar dos seus filmes terem sido, na sua maioria, sucessos de
bilheteira, a partir da segunda metade da década António de Macedo enfrenta
problemas de financiamento que o impedem de filmar. Isto faz com que se
dedique, a partir daí, aos seus estudos, pessoais e académicos, tal como ao
ensino e à escrita. Assim, depois de em 1961
ter editado o mais filosófico “Da Essência da Libertação”, retoma o conto que
deu origem ao filme “Os Emissários de Khalôm”, e colige-o, com outros, em “O
Limite de Rudzky” (1993), volume que marca o início de uma prolífera carreira
literária.
A
tudo isto, e estou a ser breve, acrescente-se que embora raramente seja
destacado como músico, António de Macedo escreveu mais de cem peças. E que foi
ele um dos primeiros portugueses a gravar música concreta ou experimental, embora
apenas em película e nunca em vinil – oiçam-se, por exemplo, algumas sequências
de “Domingo à tarde” (1965), ou a curta “Alta Velocidade” (1967), para se
perceber o trabalho deste arquitecto sonoro.
Em 2016, António de Macedo
regressa ao grande ecrã, com a remontagem de um projecto antigo, agora
intitulado “O Segredo das Pedras Vivas”, e como alvo de um documentário realizado
por João Monteiro intitulado “Nos Interstícios da
Realidade ou o Cinema de António de Macedo”.
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